Em janeiro deste ano, o Movimento Passe Livre (MPL) fez uma manifestação em São Paulo contra o aumento do preço da passagem de trens e metrôs. Antes mesmo do ato ter início, policiais realizaram diversas prisões dentro da estação República do Metrô, na capital paulista. Um dos jovens detidos teve o pescoço apertado contra o pavimento pelos agentes do Batalhão de Ações Especiais de Polícia (Baep) – que utilizavam balaclava, o que impossibilita a identificação de seus rostos.
A reportagem da Filial Brasil estava na rua neste dia acompanhando a revelação com o repórter Bruno Bocchini e o fotógrafo Paulo Pinto. E foi justamente essa imagem do jovem rendido e oprimido, encurralado por sete policiais militares e com seu pescoço sendo pressionado ao pavimento, que está sendo premiada na noite de hoje (29) pelo 46º Prêmio Jornalístico Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos, realizado no Tucarena.
“Sempre que tem uma revelação pública, o magnificência policial é grande. Nessas manifestações sempre tem potencial grande de ocorrer um afronta maior por secção dos agentes do Estado, por isso a nossa atenção tem que ser redobrada. Os anos de experiência nos leva a não nos precipitarmos e saber o momento evidente em que um recta está sendo violado”, contou o fotógrafo Paulo Pinto, em entrevista à Filial Brasil.
Naquele momento em que sua câmera disparou, ele sabia que direitos estavam sendo desrespeitados e que os agentes estavam agindo com excesso. “O sentimento que mostramos é que aqueles que são pagos para proteger o cidadão nem sempre cumprem com essa função – e quando cumprem geralmente exageram na ração”, afirmou o fotógrafo.
Uma história
Paulo Pinto começou a fotografar em seus tempos de mocidade, quando vivia em sua cidade natal: Santana do Livramento (RS). “Eu já gostava de fotografar e filmar em Super 8. Um irmão que já fotografava para um jornal sítio, chamado A Platéia, foi mais um incentivo para iniciar na profissão”, contou.
E foi mal o fotojornalismo assumiu um grande papel em sua vida. “Fui acompanhando [meu irmão] e cobrindo vários eventos para o jornal, desde aniversários, casamentos, eventos políticos e esportivos. Meu pai era jogador futebol e ídolo do 14 de Julho, o terceiro clube mais vetusto do Brasil e o primeiro rubro-negro. E foi se tornando uma coisa procedente o palato de fotografar esportes, apesar de que o fotojornalismo em si já era muito dinâmico e gratificante”, narrou o fotógrafo.
Com sua curiosidade, olhar sempre circunspecto e facilidade em iniciar conversas, Paulo Pinto foi também recebendo a orientação de grandes profissionais que passaram pela redação daquele jornal. E assim se transformou num dos grandes nomes do fotojornalismo brasiliano, com diversos trabalhos premiados e também reproduzidos pelo mundo. “A conexão com o prêmio Vladimir Herzog começou no ano de 1993, quando recebi menção honrosa com uma foto sobre a privatização da Companhia Siderúrgia Paulista (Cosipa) na Bolsa de Valores de São Paulo. Em 2018 recebi uma segunda menção honrosa com a foto do presidente Lula sendo repleto pela povo, antes de ser recluso, no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC em São Bernardo do Campo. E agora veio o prêmio sumo com a foto da revelação do Passe Livre”.
“O Prêmio Vladimir Herzog hoje é a maior premiação do jornalismo brasiliano, é gratificante estar mais uma vez entre os premiados. É um reconhecimento por tudo aquilo que fazemos uma vez que profissionais da informação. E sendo um prêmio que trata de Direitos Humanos, a nossa responsabilidade aumenta, porque temos que ser os olhos daqueles que não estão vivenciando o nosso dia a dia. Com nosso trabalho de fotojornalista temos de ser fiéis aquilo que está a nossa frente, retratar a verdade sem maquiagem. Mostrar e denunciar os abusos contra quem procura por direitos iguais, esse é o nosso responsabilidade e uma obrigação profissional”, reforçou o profissional.
Caminhos da Reportagem
Além do prêmio de melhor retrato, a EBC também ficou em primeiro lugar na categoria vídeo, com a reportagem privativo Inocentes na prisão, exibida no programa Caminhos da Reportagem, feita pela equipe formada por Ana Passos, Gabriel Penchel, Adaroan Barros, Caio Araújo, Carlos Junior, Alex Sakata e Caroline Ramos.
A reportagem premiada denuncia as injustas prisões, principalmente de jovens negros, acusados de crimes que não cometeram. Todos apontados uma vez que suspeitos por conta do racismo estrutural da sociedade brasileira.
Em entrevista à Rádio Pátrio, a jornalista da TV Brasil Ana Passos, considera que esse incidente do programa Caminhos da Reportagem levou o prêmio pela “força de sua história e pelo contraditório das prisões injustas no Brasil”. Para ela, todo o trabalho jornalístico do programa, que ouviu vítimas, especialistas e apontou dados sobre essas prisões, “deixou o teor muito consistente”.
“Receber o prêmio Herzog é uma grande honra. Fico com o coração pulando cá de ter esse reconhecimento do ponto de vista pessoal e também coletivo, se pensarmos que essa é uma conquista de todos os colegas da EBC que são tão comprometidos com a informação e com os direitos humanos”, disse. “Essa é a nossa justificação. Que a gente continue buscando histórias impactantes e relevantes não só pelo reconhecimento mas para executar nosso papel de comunicadoras e comunicadores”, acrescentou a jornalista.
O prêmio
Desde a sua primeira edição, concedida em 1979, o prêmio celebra a vida e obra do jornalista Vladimir Herzog, torturado e assassinado pela ditadura civil-militar no dia 25 de outubro de 1975 nas dependências do DOI-CODI (Destacamento de Operações de Informações do Núcleo de Operações de Resguardo Interna), em São Paulo.
Neste ano em que o golpe militar de 1964 completa 60 anos, a percentagem organizadora vai homenagear três grandes personalidades: Margarida Genevois, Ziraldo (in memoriam) e Luiz Eduardo Merlino (in memoriam).
De convénio com o prêmio, Margarida Genevois representa a sociedade social que luta em resguardo dos direitos humanos e da democracia. Já Ziraldo representa a prensa escolha uma vez que uma das frentes de resistência à increpação e à perseguição de jornalistas e artistas que lutavam por Verdade e Justiça. Merlino assassinado durante a ditadura militar, representa os jornalistas e militantes que foram perseguidos, presos, torturados, desaparecidos e assassinados durante a ditadura e cujos familiares ainda lutam pelo recta à Memória, Verdade e Justiça.
Ontem, o fotográfo Paulo Pinto foi homenageado com mais um prêmio no concurso de Fotografia do Museu do Futebol 2024.